domingo, 27 de dezembro de 2015

A revolução franciscana (1) - Um nome estranho, que Bergoglio entranha

Sob o título genérico A revolução franciscana, publiquei no Jornal de Notícias, durante este mês de Dezembro, oito trabalhos sobre o Papa Francisco, que tentam fazer um balanço do que tem sido este ainda curto mas intenso pontificado.

Um jesuíta muito franciscano


O Papa Francisco a rezar diante do túmulo de São Francisco, em Assis 
(foto reproduzida daqui)

Foi preciso ser eleito um padre jesuíta para que, pela primeira vez, o nome do mais popular santo do catolicismo fosse adoptado por um Papa. Francisco aponta, do seu santo patrono, o homem que dá atenção preferencial aos pobres, o homem da paz e do cuidado com a criação. Francisco é um Papa franciscano.

O nome é todo um programa: ao falar aos jornalistas, a 16 de Março de 2013, três dias depois de ter sido eleito, o novo Papa contou a história de como tinha escolhido o nome e exclamou: “Ah, como eu queria uma Igreja pobre para os pobres!”
Coisa estranha esta: o nome do mais popular santo em todo o mundo – Francisco – nunca tinha sido escolhido por um Papa. O primeiro a entranhá-lo acaba por ser Jorge Mario Bergoglio, de ascendência italiana mas nascido argentino.
(texto para continuar a ler aqui)


Um compromisso assinado nas catacumbas

Foi na Catacumba de Santa Domitília, um dos cemitérios romanos dos primeiros séculos da era cristã, que o documento foi assinado, no final de uma missa, há 50 anos: a 16 de novembro de 1965, cerca de meia centena de bispos católicos, que estavam em Roma a concluir o Concílio Vaticano II, assinaram o que viria a ficar conhecido como Pacto das Catacumbas. O documento acabou por ficar quase desconhecido, sendo ressuscitado apenas nos últimos cinco anos.
(texto para continuar a ler aquisobre o Pacto das Catacumbas, pode ler-se uma crónica de José Tolentino Mendonça aqui e ver-se um programa Setenta Vezes Sete aqui)

Cinco gestos
A Casa de Santa Marta
Levado aos aposentos pontifícios depois da sua eleição, o Papa Francisco terá comentado que eram demasiado grandes para um homem só e que neles caberiam muitas pessoas. Por isso, o Papa decidiu continuar a  viver no quarto que lhe tinha sido atribuído para o conclave na Casa de Santa Marta, uma residência moderna, como uma residencial onde ficam alojados bispos e outras pessoas de passagem pelo Vaticano. Esta decisão significou também que o Papa passou a contactar diariamente com funcionários do Vaticano, gente normal que ali trabalha e outras pessoas de passagem e não apenas com bispos e funcionários da Cúria.
O lava-pés 
Na Quinta-Feira Santa de 2013, poucos dias depois de ter sido eleito, o Papa Francisco quebrou a tradição litúrgica de fazer o gesto de lava-pés a 12 homens. Deslocando-se propositadamente a uma prisão de Roma, o Papa repetiu o gesto litúrgico, mas nele incluindo mulheres e muçulmanos. Um gesto sem precedentes.

Periferias, mesmo nas viagens 
A viagem da semana passada (que terminou segunda-feira) ao Quénia, Uganda e República Centro-Africana traduziu mais uma vez a opção do Papa por privilegiar visitas a países mais pobres ou mais marginalizados. Albânia, Sri Lanka, Filipinas, Equador, Bolívia, Paraguai Bósnia e Cuba, foram alguns dos países que estão entre os mais pobres dos respectivos continentes ou atingidos por graves crises sociais. E mesmo em países como os Estados Unidos (onde esteve em Setembro, depois de ir a Cuba), privilegiou o encontro com grupos de refugiados, de sem-abrigo ou de desfavorecidos.

O homem da paz
Inspirado em Francisco de Assis – que aponta como o homem da pobreza, do cuidado com a criação e da paz –, o Papa tem-se batido pela importância da diplomacia e do diálogo na resolução das crises internacionais mais graves. Há dois anos, os seus apelos dramáticos ajudaram a pôr de lado a hipótese de bombardear a Síria, que se estava a preparar entre os líderes ocidentais. Há um ano, soube-se que a reconciliação diplomática entre Estados Unidos e Cuba teve a ajuda do Papa e os dois países afirmaram-no explicitamente. A visita ambos, em Setembro, foi a forma de culminar o processo.

Abraçar doentes, duche aos sem-abrigo
Em Novembro de 2013, as imagens do Papa a abraçar um doente com o rosto desfigurado por neurofibromatose ficaram como emblema da sua capacidade de abraçar os mais débeis, os mais pobres e marginalizados. Também a colocação de alguns duches e do serviço de um barbeiro disponíveis para os sem-abrigo que vagueiam na zona da Praça de São Pedro mostram a preocupação do Papa com os mais desfavorecidos.

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Do Natal intemporal ao diálogo inter-religioso - sons de Natal, com presépios e debates





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