quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Michael Paul Gallagher (1939-2015)

In Memoriam




Autor de diversas obras sobre fé e cultura contemporânea, o jesuíta irlandês Michael Paul Gallagher morreu no dia 6 de Novembro. Nas livrarias portuguesas, encontram-se acessíveis alguns dos seus livros: Livres para acreditar. 10 passos para a fé (1); A surpreendente novidade de Cristo. Sustentando a fé para o amanhã (2); e Mapas de Fé. Dez exploradores religiosos, de Newman a Joseph Ratzinger (3), acabado de editar. O seu funeral realizou-se ontem, terça, em Milltown. 
No texto introdutório do livro Mapas de Fé, Michael Paul Gallagher confessa não fazer ideia de quantas horas de vida dedicou aos livros. “Ler foi uma parte importante da minha infância na aldeia, nos anos anteriores à televisão”, relata o jesuíta irlandês,  que desde o seu noviciado se interessara pela literatura renascentista, em Oxford, escrevendo mesmo uma tese sobre a retórica na poesia de George Herbert. Mais recentemente, Gallagher tinha sido um dos membros da comissão dos jesuítas para as comemorações dos 200 anos do restabelecimento da Companhia de Jesus, em cujo contexto explicava as razões da sua supressão
Sobre o seu gosto pela literatura, o jesuíta explicava que “o que começou com Enid Blyton terminou com Balthasar, com anos de Brontë, Beckett e Bellow de permeio”. O caminho prosseguiu, conduzindo ao ensino de literatura no University College de Dublin, durante duas décadas. O contacto com os estudantes ajudou o também padre jesuíta: “Escutá-los era como viver no futuro: aprendi que as certezas da fé tradicional estavam em sério risco, não por causa de dificuldades intelectuais, mas por causa de uma nova cultu­ra, envolvendo todo um conjunto de pressupostos sobre a vida que mudaram. Cresceu em mim uma paixão por fazer com que a fé fizesse sentido neste novo mundo”.

Michael Paul Gallagher contava seguir de Dublin para o Paraguai, mas seria em Roma que passaria os anos seguintes, quer no Conselho Pontifício da Cultura, quer na Universidade Grego­riana, como professor de Teologia, tarefa assaz moldada pelos anos de ensino da literatura, o que, ini­cialmente, se afigurava uma desvantagem. Depois, o jesuíta compreenderia que a literatura lhe oferecia uma ajuda, permitindo-lhe encarar as questões da fé de um modo mais imaginativo.
Seria com essa sensibilidade, mol­dada pela literatura e por anos de exposição a uma cultura emergente, que Michael Paul Gallagher encararia a teologia e leria os grandes pensadores do século vinte. Em Mapas de fé, encontram-se dez: John Henry Newman, Maurice Blondel, Karl Rahner, Hans Urs von Balthasar, Bernard Lonergan, Flannery O’Connor, Dorothee Soelle, Charles Taylor, Pierangelo Sequeri e Joseph Ratzinger.

O livro abre com a voz da poeta americana Mary Oliver: “Instruções para viver a vida: / Preste atenção. / Surpreenda-se. / Fale sobre isso.” Os quatro versos não deixam de oferecer uma síntese daquilo em Michael Paul Gallagher se empenhou. 

(1) Coimbra: Edições Tenacitas, 2010
(2) Braga: Apostolado da Oração, 2012
(3) Braga: Frente e Verso, 2015




Texto anterior no blogue: 
O pouco, a pessoa, os 800 anos e Rio de Onor - as crónicas de Vítor Gonçalves, Anselmo Borges, Bento Domingues e Calado Rodrigues

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