segunda-feira, 21 de junho de 2010

Saramago: «perceber o seu “não”, mesmo discordando dele»

De uma entrevista de José Tolentino Mendonça à TSF: José Saramago: da redução da Bíblia até à fronteira última:

" (...) para ele, Saramago, não era relevante a forma como Jesus ilumina a questão de Deus, porque para ele essa questão não se põe. Mas é muito importante a forma como a figura de Jesus ilumina a questão do homem, este enigma que nós somos. Ele achava que Jesus iluminava muito esse enigma.
Isso faz com que aquilo que possamos pensar sobre Saramago e as diatribes dele, as polémicas com a Bíblia, com a herança cristã e com a Igreja mais institucional hão-de ser agora relidos com outros olhos e com aquela distância que só o tempo dá, permitindo ver como nele há uma procura espiritual que certamente o livro “Caim” não encerra, mas que pode agora ser olhada e aberta a novas interpretações.


O que é que vai guardar, não do escritor, mas do homem?
A sua estatura, a sua reivindicação. Em José Saramago há muito do que eu chamaria uma espécie de teologia do protesto. Um homem que não aceita soluções fáceis para as grandes perguntas da existência. E que a tudo diz que não, protestativamente. Isso é uma coisa que nos faz bem a todos. Numa cultura muito conformista e de assentimentos fáceis, perceber o seu “não”, mesmo discordando dele e percebendo as limitações de algumas das suas declarações e do seu pensamento.
Penso que esse ar de profeta que ele carregava é muito importante porque a cultura e um criador têm também uma responsabilidade civil que é de lançar esse inconformismo, de lançar a pergunta. Nesse sentido, a pessoa de José Saramago cumpria muito bem essa imagem.

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado por Blog intiresny