sábado, 8 de fevereiro de 2003

Paquete de Oliveira, "O nosso lado oculto"

"Habituados que estamos a encontrar fáceis "bodes expiatórios" das nossas misérias, os políticos, os árbitros de futebol, os toxicodependentes, eis que, de repente, somos obrigados a falar de nós mesmos. Com os acontecimentos dos últimos dias, a sociedade portuguesa sente-se dilacerada. Os portugueses terão de discutir-se a si próprios. Afinal, o que é que está a passar-se com a sociedade portuguesa?
Portugal está transformado num vivo "laboratório social", aberto ao público. É importante não perder a ocasião para reflectirmos sobre algumas das razões de sermos como somos. O quotidiano da vida num país, como no Mundo, é sempre um laboratório social. Todavia, o quotidiano, aquilo que acontece todos os dias, talvez pela sua rotina, pode ser matéria de reflexão, observação e estudo para investigadores encartados, mas não o é para o cidadão comum. O homem da rua, actor desse mesmo quotidiano, vive-o sem consciencializar o que à sua volta se passa. O nosso dia é, em regra, um somatório de actos mecânicos, automáticos.
A prisão preventiva de Carlos Cruz teve para nós portugueses o efeito de uma "bomba" muito superior àquele que tem tido o anúncio da "guerra preventiva" para onde o sr. Bush vai levar-nos. Carlos Cruz é um ícone da nossa vida. Numa sociedade mediática, aqueles que todos os dias entram por nossas casas dentro através daquelas pequenas pantalhas, dispostas nas nossas salas ou até nos quartos de dormir, como outrora os santuários das famílias com os "santinhos", são as "imagens" que adulamos e constroem as referências do nosso quotidiano. São assim os Sant'Antónios da nossa modernidade.(...)"
in Jornal de Notícias, 8.2.2003:

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