quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O arquitecto que se despediu de Lisboa antes de cegar

Nuno Teotónio Pereira (1922-2016)

A 29 de Julho de 2012, a propósito da entrega do Prémio Árvore da Vida, do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (Igreja Católica) ao arquitecto Nuno Teotónio Pereira, publiquei no Público um texto sobre o autor da Igreja do Sagrado Coração de Jesus (o funeral de Teotónio Pereira, cujo corpo está a ser velado na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, sai amanhã, sexta-feira, às 13h30, para o cemitério do Lumiar): 



Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, 
da autoria de Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas 
(Foto reproduzida daqui)

Cinco dias depois de ter deixado de ver de um dos olhos, em Maio de 2009, o arquitecto Nuno Teotónio Pereira, hoje com 90 anos, acordou a sentir que a outra vista estava com sintomas semelhantes. Levantou-se, saiu de casa, no bairro de São Miguel, em Lisboa, e, como habitualmente, apanhou os transportes públicos atravessando a cidade para se dirigir ao ateliê, na Rua da Alegria. Ali, arrumou todas as suas coisas.
Antes de deixar o gabinete, o arquitecto telefonou para a mulher, explicando o que se passava e dizendo que tinha que voltar ao oftalmologista. Ela pediu-lhe que apanhasse um táxi e viesse depressa. Mas Teotónio Pereira fez de novo como todos os dias: apanhou os transportes públicos. Ao entrar em casa, disse: "Despedi-me de Lisboa." À hora de jantar, perdera completamente a visão.
É um apaixonado pela cidade. Viveu sempre na capital e é em Lisboa que estão alguns dos edifícios mais marcantes que projectou: o "Franjinhas", a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, os prédios de habitação das Águas Livres, o plano e edifícios do bairro do Restelo ou o prédio de habitação social dos Olivais Norte, que lhe deu o prémio Valmor 1968.
Foi também a partir de Lisboa que se empenhou em questões como a habitação social e as rendas controladas, na criação e dinamização do Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR) e na actividade cívica e política de oposição à ditadura do Estado Novo.
(texto para continuar a ler aqui)

Texto anterior no blogue
Coisas que o Nuno talvez não saiba... - uma evocação de Nuno Teotónio Pereira, por Jorge Wemans




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