quarta-feira, 2 de abril de 2014

Quando o exemplo vem de cima

Crónica

Sem perder tempo com manifestos de aniversário, Bergoglio deixou passar quase em branco o primeiro aniversário do pontificado e regressou de um retiro para insistir no discurso social. Recebeu em audiência os trabalhadores de uma fábrica italiana, recentemente comprada por um grupo alemão, e voltou a criticar um sistema económico "incapaz de criar postos de trabalho”, porque põe no centro “o ídolo dinheiro", que afeta "vários países europeus". "Criatividade e solidariedade", com um estilo de vida "mais sóbrio", sugere Bergoglio, que carrega a vivência do hemisfério sul, da periferia e dos extremos.
Esta oportuna obsessão pode ser dirigida à Igreja europeia, esmoler e pouco empreendedora. Vai valendo a ação de muitas instituições. Por cá, algumas Caritas, Misericórdias e outras IPSS's de e da Igreja, rompem a lógica assistencialista com projetos de (re)conversão social, capazes de repor a dignidade e agir politicamente onde a política «formal» não é capaz de chegar. Mas falta a correspondência de uma narrativa institucional clarificadora e denunciante. A hierarquia eclesiástica instalou-se. Receosa de ser confundida com as motivações sindicais ou partidárias – como se a política, em si, fosse um mal –, a Igreja vai oferecendo a resignação, a paciência e o céu, quando o evangelho é da terra, da denúncia e da ação.
(crónica publicada na SIC Notícias e parcialmente emitida no programa Princípio e Fim da RR; texto integral aqui)



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