domingo, 27 de abril de 2014

Os novos santos, os que não são canonizados e os que seriam incanonizáveis


João Paulo II, visto pela artista polaca Anna Gulak

Em dia de duas importantes canonizações na Igreja Católica, será importante reflectir sobre os santos não canonizados e os que seriam incanonizáveis – essa é a proposta de frei Bento Domingues, num curto texto proposto no blogue do movimento Nós Somos Igreja (NSI). Escreve ele: “Seria bom habituarmo-nos a não medir a misericórdia de Deus pelas leis que fabricamos na Igreja ou fora dela. O beatério não é o melhor juiz para avaliar os misteriosos desígnios de Deus.”
O texto integral pode ser lido aqui.

Precisamente o NSI critica, em comunicado disponível para já em inglês, o processo de canonização de João Paulo II. “Todo o sistema das canonizações é questionável e a sua democratização é essencial”, propõe o movimento, que sugere reformas na governação, transparência e prestação de contas tal como já iniciadas pelo papa Francisco. A santidade deve ser um apelo e uma vocação universal de todos os crentes, como sugere a constituição do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium (11).
O texto refere ainda o papel do Papa João Paulo II na questão dos abusos sexuais de membros do clero, nomeadamente do padre Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, bem como na simplificação dos processos de canonização, que fez com que tenha acabado a verificação de eventuais contra-indicações para verificar a vida de alguém que pode ser canonizado.
Para o NSI não estão em causa as qualidades humanas e santas de João XXIII ou João Paulo II, mas a forma como estes processos são organizados. O texto pode ser lido aqui em inglês.

No La Croix, há um extenso dossiê sobre as canonizações que este domingo decorrem em Roma. Com João XXIII (1958-63), o Papa Francisco como que “canoniza” o Concílio Vaticano II; e com João Paulo II (1978-2005), que protagonizou um dos mais longos pontificados da história, consagra “uma personalidade fora do comum, com a qual se identifica uma geração de católicos.
O dossiê pode ser consultado aqui.

Nele são incluídos perfis biográficos de João XXIII que, considerado no início como um Papa de transição, surpreendeu tudo e todos ao convocar o Vaticano II e acabou por ter um pontificado curto, mas visionário.

João Paulo II é, para muitos, um Papa grande, mas o seu pontificado não ficou isento de sombras como recorda o respectivo perfil biográfico preparado pelo mesmo jornal. Viajante incansável, opositor firme do comunismo no leste europeu – para cuja queda acabou por contribuir –, deu ao papado uma nova dimensão mas foi incapaz de renovar a Cúria, dela ficando prisioneiro, analisa o La Croix. E terá sido essa uma das razões para que a sua acção em relação aos abusos sexuais de membros do clero não tenha tido a eficácia pretendida – nomeadamente em relação ao fundador dos Legionários de Cristo (sobre a questão da pedofilia, o porta-voz de João Paulo II, Joaquin Navarro Valls, disse esta semana em Roma que o Papa não entendeu a gravidade do assunto desde o início, mas que, quando isso aconteceu, começou logo a tomar decisões, como noticia a Ecclesia).

Preocupado com a coesão hierárquica da Igreja, João Paulo II acabou ainda assim por ter gestos de abertura ao diálogo inter-religioso, como escreve Guillaume Goubert no texto.
Este dossiê explica ainda as razões da proclamação da santidade e responde a outras quatro questões ligadas à canonização e apresenta quinze datas essenciais do pontificado de João XXIII e outras tantas do de João Paulo II


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