segunda-feira, 27 de maio de 2013

Papa Francisco: "Repensar a solidariedade, não como mera assistência aos pobres, mas como reforma geral de todo o sistema"


"O fenómeno do desemprego, da falta e da perda de trabalho estende-se como uma mancha de óleo a vastas zonas do Ocidente e alarga-se de forma preocupante nas fronteiras da pobreza. E não há pior pobreza material, gostaria de o sublinhar, do que aquela que não permite ganhar o próprio pão e que priva da dignidade do trabalho. Doravante este "algo que não funciona" já não diz respeito apenas à parte sul do planeta, mas ao mundo todo. Eis então aqui a necessidade de "repensar a solidariedade", não como mera assistência aos pobres, mas como reforma geral de todo o sistema, como busca de caminhos para o reformar e corrigir em sintonia com os direitos fundamentais do homem , de todos os homens. À palavra "solidariedade", que não é bem vista pelo mundo dos negócios - como se fosse um palavrão - torna-se necessário voltar a conferir-lhe a sua cidadania social. A solidariedade não é uma atitude mais, não é uma instituição de caridade social, é um valor social. E ela pede-nos a sua cidadania".
As palavras são do Papa Francisco e acabam de ser proferidas ao receber no Vaticano uma delegação da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, instituída pelo beato João Paulo II.

Para o bispo de Roma, "a atual crise não é apenas económica e financeira, mas está enraizada numa crise ética e antropológica".
"Colocar os ídolos do poder, o lucro e o dinheiro acima do valor da pessoa humana - acrescentou o Papa -  tornou-se norma fundamental  de funcionamento e critério decisivo de organização.  Esquecemo-nos que acima dos negócios, da lógica e parâmetros do mercado, estão os seres humanos e há algo que é devido ao homem enquanto homem, por causa da sua profunda dignidade: oferecer-lhe a oportunidade de viver com dignidade e de participar ativamente no bem comum. Bento XVI lembrou-nos que toda a atividade humana, incluindo a atividade económica, porque é humana, deve ser articulada e institucionalizada eticamente (cf. Enc. Caritas in veritate, 36). Devemos regressar à centralidade do homem, a uma visão mais ética das atividades e relações humanas, sem medo de perder coisa alguma".

(Foto de uma escultura de José Rodrigues, Casa de Vila Nova de Cerveira)

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