domingo, 25 de setembro de 2011

Pastoral Operária: Não basta a contenção; urge o desenvolvimento, a justiça e a coesão social

"A par de medidas de contenção, têm de ser pensadas e reforçadas medidas de apoio a projectos de investimento criadores de novos empregos e a uma efectiva justiça e coesão social, para que haja um verdadeiro desenvolvimento do país", afirma, em comunicado, o Conselho Nacional de Pastoral Operária que realizou o seu encontro anual neste sábado, 24, em Coimbra.
A Pastoral Operária congrega os organismos cuja missão evangelizadora tem como campo principal o Mundo Operário: JOC (Juventude Operária Católica), LOC/MTC (Liga Operária Católica/Movimento de trabalhadores Cristãos), MAAC (Movimento de Apostolado de Adolescentes e Crianças), PEMO (Padres em Mundo Operário) e REMO (Religiosas em Mundo Operário). É o seguinte o teor do texto saído do encontro:
"No âmbito da preparação para este Conselho Nacional, os colectivos membros reflectiram a realidade do mundo do trabalho e apontaram algumas das preocupações mais sentidas pelos trabalhadores e suas famílias, realçando alguns caminhos, sustentados pela esperança que nos é comunicada pela força do Ressuscitado e pelo ensino social da Igreja. O desemprego, a insegurança dos que têm trabalho e a precariedade laboral no Meio Operário, são apontados como os principais.
Estas realidades colocam em causa uma vida familiar equilibrada; criam receio quanto ao futuro e à formação dos filhos (crianças e jovens); impedem os jovens de concretizarem sonhos, de terem perspectivas de futuro; motivam a emigração de jovens licenciados, de trabalhadores da construção civil, da restauração, hotelaria e serviços domésticos; agravam a situação de fragilidade (laboral e social) de muitos imigrantes; geram cortes em necessidades essenciais como a saúde (medicamentos e tratamentos), a educação dos filhos, a própria alimentação; agravam as situações de pobreza, nas quais as crianças, jovens e idosos são os mais vulneráveis e fragilizados.
Como resposta para resolver muitas destas novas situações de pobreza sobressai apenas uma vertente mais assistencialista, que não é promotora da justiça e coesão social. A sustentabilidade da Segurança Social é ameaçada, não só pelas diminuições dos descontos provocados pelo decréscimo demográfico ou aumento do desemprego, mas também pela imposição do memorando da Troika de baixar largamente a comparticipação das empresas.
Insiste-se em legalizar a precariedade argumentando a sua inevitabilidade, quando já percebemos que o seu único fruto é aumento da própria precariedade. Temos uma comunicação social que, em muitos casos, tem formatado as pessoas em vez de as ajudar a ter uma consciência crítica sobre os acontecimentos.
Assistimos, diariamente, a notícias de cortes em áreas sociais essenciais e o aparecimento de mais impostos que geram mais desemprego, pobreza, desestruturação familiar, condições de vida miseráveis, violência, aumento de sentimentos de xenofobia e outros problemas sociais de extrema gravidade.
Durante anos sonhamos e defendemos uma Europa social e solidária, exigente no controle dos apoios e atenta às necessidades de cada povo na sua autonomia e cultura. Hoje, deparamo-nos com lideranças egoístas e economicistas. Não aceitamos a ideia que querem difundir de que foi pelo facto dos povos terem mais apoios e segurança, que chegámos à situação presente. Se há quem não tem culpa nesta crise é o povo trabalhador, são as famílias que se esforçaram por crescer em conhecimentos e em abertura ao outro.
Reconhecemos a necessidade de redução das despesas, de hábitos de poupança e de uma re-educação financeira das famílias, mas também, de se valorizar a solidariedade e o que é realmente importante para a dignidade e a realização da pessoa humana. Começam a surgir movimentos de resistência e as pessoas aprendem a viver sem consumirem exageradamente e a descobrir que podem viver com menos sem perder a sua dignidade.
A par de medidas de contenção, têm de ser pensadas e reforçadas medidas de apoio a projectos de investimento criadores de novos empregos e a uma efectiva justiça e coesão social, para que haja um verdadeiro desenvolvimento do país.
Perante a realidade muito marcante de desemprego, de salários baixos e em atraso, desregulação do trabalho e dificuldades graves de muitas famílias do meio operário de todo o país, sublinhamos o que diz a Encíclica de João Paulo II Laborem Exercens, no seu 30º aniversário: ”o trabalho é a chave, provavelmente a chave essencial, de toda a questão social se procuramos vê-la verdadeiramente sob o ponto de vista do bem da pessoa” (nº3). Torna-se, pois, necessário assumir o nosso papel de profetas que normalmente se desenvolve e está no meio do sofrimento, de aceitar a proposta de Jesus Cristo “Faz-te ao largo”. É grande o desafio ao discernimento para, como cristãos, nos empenharmos generosa e gratuitamente no meio operário e continuarmos a ser fonte de esperança.
No meio da fragilidade social que vivemos, acreditamos que Deus se torna evidente em todos aqueles e aquelas que gritam por uma vida digna e estão a ser empurrados para fora da mesa do Bem Comum. Neste sentido queremos dar voz à nossa indignação perante todas as formas de exclusão, provocadas pelo desemprego ou exploração no trabalho e reafirmar a nossa confiança na conjugação de esforços de forma a construir uma sociedade mais justa e fraterna."

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