terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Em Phoenix, Jesus foi desalojado do hospital

"Poucos dias antes de os cristãos comemorarem o Natal, Jesus foi desalojado. Numa estranha reviravolta do destino, foi retirado de um hospital em homenagem a seu pai adoptivo, S. José. A saga teve lugar num deserto. Só que desta vez foi em Phoenix, no Arizona, em vez de no Egipto.
Por causa de uma mãe de quatro filhos ter visto a sua vida salva em circunstâncias terríveis, a presença sacramental de Jesus foi forçada a deixar um hospital católico, no Vale do Sol. Foi uma perda triste, na verdade, uma vez que o corpo de Cristo habitava tranquilamente no Hospital de S. José há mais de 115 anos".
Assim começa a coluna 'Grace on the Margins' [Graça nas Margens] Jamie L. Manson, na página da Internet da revista National Catholic Reporter (NCR) datada de hoje, e intitulada "St Josephs's Hospital: a phoenix in the desert". As palavras constituem uma meditação sobre a recente decisão do bispo da diocese de Phoenix, nos Estados Unidos de retirar a designação de católico a um hospital que, tendo uma mãe grávida com uma doença que iria levar os dois seres à morte, decidiu salvar a mãe, com a consequência de ter provocado a morte do bebé. Sobre o caso, Manson, uma prestigiada colunista que se dedicou ao estudo da teologia e da ética sexual, continua a sua reflexão sobre o caso:
"Seria impossível contar quantos medos foram suavizados, quantas pessoas enlutadas foram consoladas, e quantos funcionários cansados foram alimentados pela missa ou apenas por poderem sentar-se silenciosamente em frente do Santíssimo Sacramento. D. Thomas Olmsted, o hierarca que tomou a decisão de retirar a Eucaristia da capela do Hospital de S. José, tem sido considerado 'um homem de princípios e uma pessoa empreendedora que coloca a igreja institucional à frente das pessoas ", segundo um relato da NCR no último Verão. Mas é caso para perguntar com que princípios estava ele a jogar quando escolheu retirar a designação de católico deste hospital fundado pelas Irmãs da Misericórdia.
A comissão de ética do Hospital de São José usou tanto da razão como da compaixão quando se pronunciou sobre este triste caso de uma mulher cuja gravidez a ia, literalmente, matando. Tanto a mãe como o feto estavam a morrer. Se a mãe morresse, a gravidez não poderia ser levada até ao fim. Somente a vida da mãe poderia ter sido salva.
Olmsted parece ter tido todos os cuidados do mundo para o nascituro. Mas onde esteve a sua consideração para com a mulher, ou para com os seus quatro filhos que teriam ficado sem mãe? Onde ficou o respeito pelo seu marido? Não será  irónico que um bispo que procura de forma agressiva preservar a instituição do casamento e a santidade da família se mostre tão dispostos a forçar um pai  a uma situação de família monoparental? Será que a igreja se prontificou a ajudar aquele pai no cuidado para com os quatro filhos? Será que ofereceu assistência aos filhos, os cuidados da casa ou o benefício de um salário adicional para os próximos 18 anos?
Não se pode deixar em claro o trauma que o bispo está a infligir àquela mãe e à sua família. Como mãe de quatro filhos, há pouca dúvida quanto a esta mulher estar atingida pela dor, devido a esta tragédia. Não duvido de que as acções de Olmsted exacerbaram  o seu sofrimento e criaram uma situação prejudicial e desnecessária de vergonha para esta família. Pode-se imaginar o que é viver com a noção de que a decisão de salvar a própria vida tenha acarretado a remoção da Eucaristia de um hospital, numa operação altamente publicitada?"

Continuar a ler o texto aqui.

1 comentário:

António Parente disse...

Não conhecia os factos que constam deste post e decidi investigar. Obtive as seguintes informações:

a) A decisão do Bispo não foi tomada exclusivamente com base no caso da mãe e do bebé mas também porque "St. Joseph’s admitting to being in formal cooperation in abortions, sterilizations and contraceptive
services administered through their Mercy Care Plan — a $2 billion endeavor covering about
368,000 of Arizona’s poor.".

b) Há um parecer duma organização de bioética católica que merece ser referido: http://www.ncbcenter.org/NetCommunity/Document.Doc?id=171

c) Para se ter um ideia completa do quadro de decisão do Bispo veja-se o conteúdo do Mercy Care Plan na parte "Family Planning Services":

http://www.mercycareplan.com/PDF/MPCAcuteHandbook2011English.pdf

Repare-se que através desse plano de saúde o hospital oferece assistência em métodos contraceptivos, nomeadamente "Post coital emergency oral contraception - no prior authorization is required".

Não tomo posição sobre a decisão do Bispo mas parece-me que o post dá, involuntariamente por só se ter baseado numa única fonte, uma perspectiva enviesada desta questão.