domingo, 29 de agosto de 2010

Raimon Panikkar, um ícone da unidade

(Foto: http://picsdigger.com/image/09d41830/)

Morreu Raimon Pannikar. Com 91 anos, o filósofo e teólogo do diálogo inter-religioso morreu na sua casa de Tavertet, na Catalunha, na passada quinta-feira à tarde. O funeral foi este sábado, mas a cerimónia pública de homenagem será uma missa de homenagem na próxima sexta-feira, dia 3 de Setembro, às 17h, na Abadia de Montserrat.
Filho de mãe catalã e pai hindu, Panikkar era ele próprio um ícone da unidade que ele tanto pugnava nas suas obras - nomeadamente, aquelas em que falava do diálogo inter-religioso. As suas cinzas ficarão em Tavertet e no rio Ganges, na Índia.

José Manuel Vidal escreveu no ReligionDigital um pequeno obituário e vários outros textos e vídeos. O site oficial de Raimon Panikkar tem também diversos textos e artigos.
Em 2004, no Parlamento das Religiões do Mundo que decorreu em Barcelona, tive o gosto de o entrevistar para o Público. Aqui ficam excertos dessa entrevista.

O diálogo inter-religioso é imparável

O diálogo inter-religioso tem altos e baixos, mas já ninguém o pode parar. Essa é a convicção do co-presidente do Parlamento das Religiões do Mundo, que hoje termina em Barcelona. Raimon Panikkar é, ele mesmo, um símbolo vivo desse processo, pois é filho de um hindu e de uma catalã.
Veste-se à maneira indiana e calça sandálias. Padre católico, Raimon Panikkar vive, sem televisão, numa aldeia da Catalunha, com 60 habitantes, onde recebe, uma vez por semana, quem com ele quer falar. Publicou dezenas de livros (alguns traduzidos em português, pela Editorial Notícias, como “A Trindade”), é reconhecido e apreciado por muita gente da rua. Voz e rosto sereno, olhos tranquilos, é um dos principais teólogos e filófosos europeus contemporâneos.

P. — Um dos argumentos mais ouvidos é que as religiões têm um papel social e político a desempenhar. Isso significa que a dimensão religiosa está esgotada?
R. — Não, significa que as religiões descobrem que devem incarnar-se neste mundo e não devem preocupar-se exclusivamente com o céu e o outro mundo — sobretudo no caso do cristianismo, que é inclusivo. Não podemos passar por cima das injustiças institucionais e de tantos problemas concretos, mesmo se as religiões não são para solucionar todas as coisas. As religiões criam opinião, promovem consciência e abrem caminhos mais pacíficos.

P. — O diálogo inter-religioso começou há três décadas e hoje atingiu já uma dimensão fundamental para o mundo. Como analisa esta evolução?
R. — Contesto a sua pergunta. o diálogo inter-religioso começou no século I, do ponto de vista do cristianismo, quando os primeiros cristãos, que eram judeo-cristãos, falaram com os gregos e helenizaram o cristianismo. Depois, este cristianismo helenizado dialogou com o mundo germânico. Mais tarde, fossilizou-se um pouco com o colonialismo, onde se pensava que não se devia entrar em diálogo com o outro.

P. — Mas esta forma de diálogo actual é diferente. Acha que vai no bom caminho?
R. — O processo é imparável, não há quem o páre, e vai na direcção certa. [No caso do catolicismo] o Concílio Vaticano II [1962-65] abriu as portas [da Igreja Católica] e tirou a muitos católicos os problemas de consciência que sobre eles pesava acerca do exclusivismo da salvação. Agora, por razões políticas, às vezes trava-se. vai-se com prudência, fecham-se janelas. Falar para mil milhões de pessoas tem que ser com modos diferentes, por isso por vezes parece que se vai mais lentamente. Há grupos que querem mais abertura, outros têm medo de perder identidade e preferem defender-se.

P. — Afirmou neste parlamento que as religiões servem de desculpa para guerras políticas e económicas. Como se combate essa violência de marca religiosa?
R. — Em primeiro lugar, não combatendo, porque o combate seria já violento. Em segundo, tirando o medo, porque muitos fecham-se no seu grupo por terem medo de perder a identidade. Perdemos a dimensão mística das religiões e identificam-se religião com crença: se eu digo uma coisa e o outro diz diferente, eu tentarei eliminar quem diz diferente.

P. — O senhor é um símbolo vivo do diálogo inter-religioso. É possível fazer uma síntese entre credos diferentes?
R. — Não se trata de uma síntese, mas de fecundação mútua. Nem é tão pouco um ecletismo, mas um enriquecimento, que será consequência de um maior conhecimento, do amor e do encontro com a diferença. Dou-lhe um exemplo: os católicos têm necessidade do budismo para recordar a dimensão da contemplação e do silêncio. O encontro serve para enriquecer e contactar com o que cada um esqueceu da sua tradição.

P. — O que têm os católicos a aprender do hinduísmo?
R. — Deixe-me criticar a pergunta: o que necessitamos é, mutuamente, uns dos outros. Não posso só enriquecer-me com os outros, mas partilhar também o que sou. Pode aprender-se a contemplação, a paciência. Mas posso dizer-lhe que, do hinduísmo, os cristãos podem aprender a tolerância, a superar a razão, a não reduzir as coisas apenas a uma dimensão.

EM COMPLEMENTO:
(mp)

sábado, 28 de agosto de 2010

Anselmo Borges: Há receitas para a felicidade?

O que queremos verdadeiramente é, sem sombra de dúvida, ser felizes. Mas como se chega à felicidade? É que, para se ser feliz, é necessária uma multidão de coisas e de condições: algum prazer, saúde, uma vida familiar agradável, realização profissional mínima, reconhecimento social, algum dinheiro, amigos - "sem amigos, ninguém escolheria viver", disse Aristóteles. Depois, também é preciso ter sorte, como diz a própria palavra no seu étimo ("felix"), e isso não acontece apenas com felicidade ("felicidad", em espanhol, e "felicità", em italiano): o "Glück" alemão significa felicidade e sorte, a raiz de "happiness" é "happ", com o significado de acaso, fortuna ("perhaps" significa talvez), o mesmo acontecendo nas palavras grega e francesa, respectivamente: "eudaimonia" e "bonheur".

Texto de Anselmo Borges no DN de 28 de Agosto de 2010. Ler mais aqui.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

"O meu mundo"

Recentemente a BBC convidou a sua audiência a produzir e enviar um curto docmentário no âmbito de um concurso designado "O Meu Mundo". Recebeu mais de meio milhar de contributos. O júri, depois de analisar os trabalhos, seleccionou como vencedor o documentário do espanhol Frederico Teixeira de Sampayo, intitulado "Wash, Rinse and Spin" ["Lavar, enxaguar e centrifugar"]. Aqui está:

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Padre Alberto Azevedo – Um Testemunho

Texto colectivo enviado ontem aos dois diários de Braga e publicado hoje no 'Diário do Minho':
Vivemos da inspiração e coerência dos testemunhos e o Padre Alberto Azevedo, há dias falecido, foi uma dessas vidas que deixam marcas e saudades. Foi coerente, solidário, intrépido e atento às pessoas concretas e à situação do país e do mundo. Ao longo de décadas, como professor, ouvia, espicaçava, municiava – em suma fazia as pessoas crescer e por isso tantos lhe devemos tanto. Na Igreja e na sociedade, inquietava, sofria, alertava, tornando-se frequentemente motivo de incómodo, o que fez dele sempre um homem certamente com defeitos, como todos nós, mas digno e inteiro.
Foi, frequentemente, sinal e ponte para muitos para quem a Igreja não foi nem mãe nem mestra, ou não a sentiram como tal. Caminhou com outros que, no meio do nevoeiro denso dos dias ou das perplexidades e contradições da vida, buscavam um sentido e insistiam na procura.
Muitos desses, de várias proveniências e trajectórias, se juntaram, na semana passada, para um adeus, na igreja de Ribeirão, incluindo um significativo número de colegas e amigos presbíteros. Teria sido ocasião para um reconhecimento por parte da Igreja – ao menos neste momento – relativamente a um dos seus padres que, bem antes, diversos sectores da sociedade já tinham reconhecido e homenageado. 
Desgraçadamente, o que vimos e ouvimos, na celebração das exéquias, por parte do bispo auxiliar que presidiu foi quase o contrário – umas palavras sem grandeza, sem justiça e quase a pedirem desculpa pela irreverência e incómodo que foi a vida do sacerdote que ia a sepultar. Ficámos estupefactos com uma homilia baça e infeliz, sem alma nem afecto, quando se esperaria, em tão solene momento, que a Igreja Diocesana reconhecesse o homem e o padre extraordinário que teve consigo, o seu contributo decisivo para que alguma credibilidade ela ainda tivesse e as portas (tantas portas!) se não fechassem de vez. Um gesto de justiça face a um homem que foi, por certo, um dos seus filhos mais dedicados e amantes.
Foi bem sentido o sururu de descontentamento e de revolta que circulou pela igreja ainda durante a homilia. Atenuou este sentimento de profunda injustiça a intervenção final de um sobrinho do Padre Alberto Azevedo, sublinhada por sentidas e prolongadas palmas, e o testemunho de uma antiga militante da JEC, já no cemitério.
Pelo nosso lado, enquanto amigos e companheiros que fomos do Padre Azevedo, só podemos lamentar que seja apesar da Igreja, e não pela e com a Igreja, que ele seja reconhecido como um testemunho de homem e de cristão. Mais ainda, escutamos, na missa de corpo presente uma diatribe contra o mundo laico que nos pareceu manifestamente desqualificadora da sua autonomia, como se a Igreja tivesse (ainda) o monopólio das exéquias fúnebres e não pudesse haver beleza em funerais não católicos. É também isto que se situa nos antípodas do modo de ser cristão do Padre Azevedo. Com ele aprendemos, de facto, e continuamos a procurar, olhar atentamente o mundo e  intervir nele de forma esclarecida, crítica e confiante, inspirados pelo seu desassombro e pela radicalidade do Evangelho. E não a ficar tolhidos ou alarmados com o que se passa à nossa volta. Afinal move-nos a esperança; uma esperança que é maior que a História e maior que a Igreja.

Armando Romano, Engenheiro
Cristina Fabião, Médica
Eugénio Peixoto, Professor
Gabriela Macedo, Professora
Helena Martinho, Professora
Luís Soares Barbosa, Professor
Manuel Pinto, Professor
Margarida Constantino, Professora
Paulo Bateira, Médico
Vera Constantino, Professora

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A deriva securitária em França

A França, considerada "pátria dos direitos humanos", vive, nas últimas semanas, debates intensos, desencadeados pelas medidas do presidente Sarkozy que pretendem criar uma associação implícita entre imigração e criminalidade. Numa deriva de cariz securitário, e na sequência de acontecimentos dramáticos que envolveram comunidades romanis ou roms, Sarkozy decidiu desmantelar 300 acampamentos ilegais (200 dos quais de romanis) expulsar do país centenas de membros daquela etnia, originários da Roménia e da Bulgária, que se encontravam em situação ilegal em França.
Esta política e as circunstâncias e factos que lhe estão subjacentes têm tido pouca expressão nos media portugueses, especialmente no que se refere à relação destas medidas com a política interna francesa, com as outras comunidades imigrantes (nomeadamente a portuguesa) e com o facto de os dois países de destino das expulsões serem membros da União Europeia (ainda que em situação especial).
As igrejas, e nomeadamente a católica, mas também outras organizações da sociedade francesa, têm tido uma intervenção decidida neste acampo. O cardeal de Paris sublinhava, há dias, que o medo dos outros não é «nem a mensagem do Evangelho nem a mensagem de uma sociedade civilizada», enquanto o padre Arthur Hervet, de Lille, conhecido em França pelo trabalho que há muito desenvolve junto daquela etnia, anunciou neste domingo ter decidido devolver ao Ministério do Interior, em sinal de protesto, a condecoração de medalha de mérito, com que foi agraciado pelas autoridades, há quatro anos. Deixam-se aqui algumas sugestões de leitura de diferentes órgãos da imprensa:
E ainda:

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Alberto Azevedo: morreu um padre "inquieto e inquietante"

Mais tarde ou mais cedo a notícia surgiria. E veio hoje, num e-mail escrito pelo Luís Barbosa: faleceu Alberto Azevedo, um padre que marcou gerações de estudantes no Liceu Sá de Miranda, em Braga.
Foi um daqueles professores que não se esquecem mais. Não tanto pelo que ensinam das matérias do programa, mas pelo modo como estão com os alunos e como são pessoas com eles e para eles. Na homenagem que tantos amigos lhe prestaram em 2000, por altura dos seus 50 anos de padre, Anselmo Borges considerou-o um homem "inquieto e inquietante".
Conheci-o faz agora quarenta anos, vivo, combativo, anti-demagógico, homem de fé, num encontro nacional da JEC, num tempo em que os movimentos da Acção Católica eram dos escassíssimos espaços abertos em que se discutia a situação do país, e em que um dos documentos de fundo dos conselhos nacionais daquele movimento estudantil se intitulava "Análise da Situação do Meio". Foi nessa escola que o Padre Azevedo se fez e ajudou a formar muitas pessoas.
Dele só fui aluno na vida. Seu aluno foi, por exemplo, o não há muito desaparecido jornalista Torcato Sepúlveda, que escreveu em 20 de Janeiro de 1996 um depoimento no Público, que dá bem a ideia da grandeza de espírito deste sacerdote e professor:
0 padre Alberto Azevedo aguentou tudo. Foi meu professor durante seis anos, no Liceu Sá de Miranda, em Braga, e aguentou tudo. Quando acabáramos de sair da primeira adolescência, aturou os nossos primeiros arroubos de materialismo primário: "Eu não vejo Deus, eu não vejo Deus. Como é que ele existe se a gente não o vê?" [...]. Depois, quando já contávamos a provecta idade de quinze, dezasseis ou dezassete anos, a coisa complicou-se. Na turma rodavam umas obras - hoje consideradas inocentíssimas: mas imaginem a cidade de Braga nos anos 60... -como "Porque não sou cristão", de Bertrand Russell, ou "A Relíquia", de Eça de Queirós, ou "O Cavaleiro da Esperança», de Jorge Amado. A coisa passou a piar mais fino. [...] eu estava a ler, na aula de Religião e Moral, esse ensaio superlativamente subversivo "Porque não sou cristão". Um rapaz denunciou-me: "Aqui o colega está a ler um livro mau." Padre Azevedo dirigiu-se pausadamente à carteira onde eu cabulava e exigiu ver a capa do ensaio. E desabafou: "Faz ele muito bem. Este livro vale mais do que o que eu estou a dizer." E ameaçou o denunciante que, se ele reincidisse na canalhada, o punha fora da aula com falta de castigo.[...] Um dia os meus pais resolveram ir a Fátima. Havia que comungar. Declarei, em casa, que não o faria. Choro e ranger de dentes do poder paternal. Desesperado, fui ao liceu e «confessei-me» ao padre Azevedo. Que se tirou das suas tamanquinhas, foi falar com os meus pais e lhes ralhou: "O rapaz tem direito à liberdade. Fará o que quiser. Só ele pode escolher.» Um cidadão destes - numa terra devagaríssima como Braga -, era forçoso que se tornasse mito.[...]»
Público (20 de Janeiro de 1996)

ACTUALIZAÇÃO (em 26/08):
- RECORDAR O PADRE ALBERTO DE AZEVEDO, Por Guilherme d’Oliveira Martins, in Público, 21.08.2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Religião e (in)felicidade - colóquio em V.N. Gaia


















Inscrições:
Seminário da Boa Nova
Apartado 10
Valadares
4406-901 Vila Nova de Gaia

Mais informação: AQUI

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

70 anos de Taizé, uma parábola da comunhão

No dia 20 de Agosto de 1940, em plena II Guerra Mundial, o irmão Roger chegou a Taizé, com o projecto de fundar uma comunidade. Morreu a 16 de Agosto de 2005, assassinado por um acto doentio de uma senhora, durante a oração comunitária da noite. Este duplo aniversário – os 70 anos da fundação da Comunidade e os cinco da morte do irmão Roger – será marcado por uma celebração em Taizé no dia 14 de Agosto, às 19h30.

Para esta ocasião, o irmão Aloïs, sucessor do irmão Roger, recebeu várias mensagens, que a comunidade acaba de divulgar.

Do Papa Bento XVI: “Agora que entrou na alegria eterna, o querido irmão Roger continua a falar-nos. Que o seu testemunho de um ecumenismo de santidade nos inspire no nosso caminho para a unidade e que a vossa Comunidade continue a viver e a fazer brilhar o seu carisma, especialmente junto das gerações mais jovens!”

Do Patriarca Bartolomeu de Constantinopla: “Com o irmão Roger e com os irmãos que partilham da sua visão, Taizé tornou-se um verdadeiro centro, um ponto de convergência e de encontro. Um lugar de aprofundamento na oração, na escuta e na humildade. Um lugar de respeito pela tradição do outro. O reconhecimento do outro, do seu rosto e, portanto, do seu ser – pré-requisito necessário a um amor à imagem daquele que nos amou ‘sem limites’”.

Do Patriarca Cirilo, de Moscovo: “Dos vários encontros que tive com o irmão Roger, percebi, de cada vez, o quanto ele conhecia e compreendia a tradição da antiga Igreja e o quanto a Palavra de Deus e a obra dos Padres da Igreja eram um fundamento na sua experiência espiritual pessoal. Conjugar a fidelidade aos ensinamentos dos Padres da Igreja com uma actualização criativa no ministério missionário entre os jovens de hoje caracterizava o caminho do irmão Roger, tal como o da Comunidade por ele fundada.”

Do arcebispo de Cantuária, Rowan Williams: “Continuamos a celebrar o irmão Roger como alguém que nos dá confiança na ressurreição e que nos desafia a viver pela ressurreição. À luz do seu testemunho, tornamo-nos livres para olhar as crises e traumas do nosso.”

Do secretário-geral da Federação Luterana Mundial, Ishmael Noko: “Não podemos lembrar-nos da violenta morte do irmão Roger sem estarmos ainda mais conscientes de que ele foi testemunha de uma outra visão para a vida... O empenho de Taizé pela reconciliação, a paz e a unidade da humanidade é mais actual que nunca.”

Do secretário-geral da Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas (CMIR), Setri Nyomi: “Celebramos especialmente o impacto que a Comunidade de Taizé tem em centenas de milhares de jovens em todo o mundo. Taizé sabe o que está no coração de Nosso Senhor Jesus Cristo: que os jovens são importantes.”

Do secretário-geral do Conselho Ecuménico das Igrejas, Olav Fykse-Tveit: “A ‘parábola da comunidade’ foi um serviço pioneiro: inspirou Igrejas do mundo inteiro e é um modelo para estas atenderem às necessidades espirituais e materiais do povo de Deus e, mais particularmente, dos jovens.”

O texto integral destas mensagens está disponível aqui.

Na altura deste duplo aniversário, será publicado um pequeno livro contendo alguns textos essenciais do irmão Roger: “Viver para amar”. O irmão Aloïs escreve no prefácio: “Eis algumas páginas que permitem descobrir a vida e o pensamento do irmão Roger... A herança que deixou está viva. Ele tinha uma certeza: Deus está unido a todo o ser humano, mesmo àqueles que não têm consciência disso. Nesta confiança na presença de Deus, ele encontrava uma paz que procurava comunicar aos outros.”

Viver para amar - Palavras escolhidas, estará disponível em português numa edição de Paulinas Editora.

domingo, 1 de agosto de 2010

"O Vaticano e o sacerdócio da mulher"

Narciso Machado, juiz-desembargador jubilado, escreve um texto no Público, no qual sustenta que "na proibição da ordenação de mulheres viola-se o sentido da igualdade cristã entre homens e mulheres".
Nem esta opinião é nova nem a oposição terminante da hierarquia da Igreja o é. Não importa muito se estamos a favor ou contra. Mas importa que o texto em causa não é panfletário, é argumentado e traduz um sentimento que cresce e que, muito provavelmente, se traduzirá numa prática corrente, em futuro mais próximo ou - o mais provável - mais distante.
Por muito que as posições oficiais pretendam fechar o assunto pela via regulamentar, nem por isso ele desaparece da agenda das preocupações de um sem-número de católicos. Parafraseando o velho ditado, e ao contrário de outros tempos, "Roma locuta, causa [non] finita" (O Vaticano falou, a questão [não] terminou).
É é precisamente por isso - por ser matéria disputada e longe de poder ser calada - que se torna preocupante que, nas recentes Novas Normas sobre os Delitos mais Graves, a Congregação para a Doutrina da Fé tenha criado a ideia de que a ordenação sacerdotal de mulheres se equipara, de algum modo, em gravidade, ao abuso sexual de menores e à pedofilia. O abuso e a exploração sexual serão sempre matéria grave, hedionda e criminosa, enquanto que os normativos sobre a ordenação de mulheres são assunto pendente e passível de ser revisto, noutras circunstâncias que não as presentes.
Por essa razão, colocar deste modo o assunto (da ordenação) releva também de uma arrogância perante o futuro que não deixa de ser chocante do ponto de vista da humildade cristã.